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Como reduzir a mortalidade infantil ?

Esta foi a pergunta da Brenda, de 11 anos.

Resposta do professor Ari: Existem muitas maneiras de se reduzir a mortalidade infantil, mas para ter sucesso nessa tarefa, o Estado brasileiro precisa implantar uma série de políticas sociais que provoquem mudanças estruturais nas condições de vida da população. Por exemplo: acabar com a fome e a miséria, aumentar o acesso ao saneamento básico (água e esgoto tratados), melhorar a instrução das mulheres, dar à população de baixa renda mais acesso a serviços de saúde de qualidade, aumentar as campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação, da reidratação oral e do aleitamento materno, investir em pesquisas médicas, etc.

De acordo com o Ministério da Saúde, as causas da mortalidade infantil no Brasil se alteraram ao longo das últimas décadas. Nos anos 80, as principais causas eram as doenças infectocontagiosas, mas nas décadas seguintes as mortes provocadas por essas doenças diminuíram porque mais crianças passaram a ser vacinadas e também porque foram introduzidas novas vacinas, como a da haemophilus, que reduziu os casos de meningites e pneumonias provocados por essa bactéria.

Houve também a redução das mortes por diarreias em razão de melhorias na alimentação e nas condições sanitárias e  ambientais da população, e da ajuda trazida pelo Programa de Saúde da Família. De 1990 a 2007, a taxa de mortalidade infantil do país passou de 47,1 crianças mortas por cada 1000 nascidas vivas, em 1990, para 19,3/1000, em 2007.

Redução da mortalidade pós-neonatal - Mas essa redução se deu principalmente na chamada mortalidade pós-neonatal, que exclui os recém-nascidos e os fetos, enquanto as mortes por causas perinatais (aquelas relacionadas a problemas que ocorrem durante a gravidez, o parto e logo após o nascimento) aumentaram e passaram a ser responsáveis por mais de 50% das mortes no primeiro ano de vida. Apesar de apresentar maior queda, a mortalidade infantil pós-neonatal ainda poderia ser reduzida, pois suas principais causas podem ser facilmente combatidas: a desnutrição e as doenças infecciosas, principalmente a diarreia e a pneumonia.

As mais altas taxas de mortalidade infantil no Brasil estão concentradas nas regiões e nos bairros onde há mais pobreza e falhas nos serviços de saúde e saneamento básico. As regiões Nordeste e Norte permanecem com os níveis mais elevados, e as crianças pobres têm mais do que o dobro de chance de morrer do que as ricas. A mortalidade infantil entre as crianças negras e indígenas é, respectivamente, cerca de 40% e 138% maior que entre as crianças brancas, o que mostra como ainda estamos longe de acabar com as desigualdades sociais.

Aumento das mortes neonatais – De acordo com o Ministério da Saúde, a partir do final da década de 80, as mortes de bebês com até 27 dias de vida (chamadas de mortes neonatais) passaram a ser o principal componente da mortalidade infantil em termos proporcionais, representando entre 60% e 70% da mortalidade infantil em todas as regiões do Brasil atualmente. A maior parte dessas mortes acontece do nascimento até o sexto dia de vida, e cerca de um quarto delas ocorre no primeiro dia, o que mostra que elas estão associadas à assistência hospitalar deficiente que é dada durante e após o parto.

Estudos feitos pelo Ministério da Saúde, entre 1996 e 2007, sobre as causas das mortes de crianças menores de um ano mostraram que as doenças perinatais (aquelas que acontecem antes, durante ou logo após o parto) foram as que mais mataram bebês. Elas correspondem a cerca de 60% das mortes infantis e 80% das mortes neonatais (até os 27 dias), além de ser a primeira causa de morte em menores de cinco anos. As anomalias congênitas (que a criança já nasce com elas) apareceram em segundo lugar e, desde 2007, as doenças do aparelho respiratório passaram a ser a terceira causa de morte infantil, no lugar das doenças infecciosas e parasitárias.

Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas, pois suas causas estão relacionadas à falta de acesso aos serviços de saúde e à baixa qualidade da assistência prestada pelos hospitais durante a gestação (pré-natal), o parto e após o nascimento. Nesse grupo de causas, estão a prematuridade (bebês que nascem antes de completar os nove meses de gestação) e suas complicações, como o desconforto respiratório, as infecções e a asfixia. A asfixia, em muitos casos, poderia ser evitada se houvesse mais recursos materiais nos hospitais e maior qualificação dos seus funcionários, pois 98% dos partos no Brasil ocorrem em maternidades e 88% deles são atendidos por médicos.

O estudo do Ministério da Saúde constatou que 62% das mortes dos bebês nascidos vivos, com peso acima de 1500 gramas, poderiam ter sido evitadas se eles tivessem recebido a atenção e o tratamento adequados ou se suas mães tivessem tido a devida assistência durante a gestação e o parto. Isso demonstra o quanto é importante melhorar o atendimento hospitalar durante o pré-natal, o parto e após o nascimento para reduzir a mortalidade infantil no Brasil.


Cuidados durante a gestação para evitar a mortalidade infantil


As consultas médicas durante a gestação, chamadas de pré-natal, são importantes para que as mulheres saibam se tudo está correndo bem com elas e o bebê. É também a oportunidade para esclarecer as dúvidas, preparar-se para o parto, prevenir, descobrir e tratar o mais cedo possível quaisquer problemas que surjam.

Os serviços de saúde devem, já na primeira consulta, entregar à mulher o seu cartão – ou carteira – de gestante, onde serão registradas informações como peso, pressão arterial, crescimento do bebê, tipo sanguíneo e resultados de outros exames importantes. Em cada consulta é obrigatório que os profissionais responsáveis pelo atendimento verifiquem o peso, pressão e altura uterina da gestante, e ouçam os batimentos do coração do bebê.

Um bom pré-natal deve incluir, no mínimo, seis consultas, e seu acompanhamento pode ser realizado por um médico, enfermeira ou outro profissional devidamente treinado, como agentes comunitários de saúde e líderes da Pastoral da Criança.
 

Exames - Os exames rotineiramente solicitados no pré-natal são os de urina, fezes e sangue. O exame de fezes informará a existência de alguma verminose, que deverá ser tratada; o de urina mostrará se há sinais de infecção ou indicações suspeitas de uma eclâmpsia (convulsões que podem aparecer antes, durante ou depois do parto e levar à morte ou ao coma); o exame de sangue verifica as funções gerais do organismo, o tipo sanguíneo, o fator Rh e a presença ou não de anemia e sífilis.

No pré-natal, o diagnóstico das doenças sexualmente transmissíveis é de extrema importância, tanto para a mãe como para o feto. Na identificação de uma sífilis, por exemplo, o tratamento oportuno evitará que o bebê venha a ter graves sequelas.

Apalpar a barriga da gestante e medi-la permitirá ao profissional de saúde responsável pelo acompanhamento saber se o bebê está se desenvolvendo adequadamente, na posição e tamanho corretos. Hoje essa avaliação é quase sempre realizada mediante exame de ultrassom, mas, mesmo sem ele, é possível ter uma boa noção apenas auscultando o bebê, medindo e verificando a barriga da mãe (altura uterina).

A dieta deve ser rica em vitaminas e sais minerais encontrados nas frutas e verduras. Na gravidez, aumentam as necessidades de ferro, proteínas e cálcio. A partir do segundo trimestre gestacional, pode ser necessária uma complementação de ferro e vitaminas, pois a falta de ferro pode provocar o surgimento de anemia ferropriva.

Cuidado com a pressão alta - Em nosso país, um dos problemas mais apresentados pelas gestantes que procuram os serviços de emergência dos hospitais são as complicações da pré-eclâmpsia (também conhecida como toxemia) e eclâmpsia, uma doença que só acontece na gravidez. Seu sinal mais evidente é o inchaço anormal de pés, face e mãos, acompanhado de pressão alta, que pode se complicar com fortes dores de cabeça, visão embaçada e até mesmo convulsão e morte.

A pressão necessita ser controlada a cada consulta. Caso a pressão esteja alta, a mulher deve ser orientada e encaminhada para exame de urina e tratada, se necessário. Na maioria das vezes, uma boa dieta, repouso adequado e acompanhamento frequente são suficientes. Se a mulher necessita, ela tem direito legal ao repouso. Em qualquer situação que ameace a sua saúde é garantida a licença médica, sem nenhum prejuízo ao salário.

O cigarro, o álcool e os medicamentos – assim como outras drogas – precisam ser evitados na gestação, porque causam danos à saúde, tanto da mãe como do filho.

O tétano neonatal é uma doença infecciosa grave e muito perigosa para as mulheres em estado gestacional. Para preveni-lo, toda gestante deve receber a vacina antitetânica da seguinte forma: uma dose de reforço, caso tenha sido vacinada corretamente há menos de dez anos; ou três doses, em caso contrário. Essa vacina evita o tétano na mãe e no bebê (mal de sete dias).

O parto - A atenção ao parto é sempre uma urgência. Portanto, seu atendimento não pode ser recusado em nenhum hospital ou maternidade. Quando o hospital, por qualquer motivo, não apresenta condições de atender a mulher em trabalho de parto, não pode simplesmente mandá-la embora sem antes examiná-la. Tampouco pode transferi-la para outro estabelecimento de saúde se não houver tempo suficiente, ou se não confirmar a existência de vaga e o atendimento. Se isso não ocorrer, e principalmente se a gestação for de risco ou complicada, a mulher e seu marido ou companheiro devem formalizar uma reclamação contra o hospital, nas instâncias de controle social.

A gestante já deve saber antecipadamente qual o hospital ou maternidade onde pretende – ou pode – dar à luz. Alguns hospitais possuem locais chamados de casa de espera ou casa de repouso, que oferecem serviço de alojamento a gestantes de risco ou que morem longe da maternidade. Esses locais ficam próximos ao hospital ou a maternidade e podem diminuir, nos casos de gravidez de risco, a ocorrência de complicações e de mortes, tanto das mães como das crianças.

Logo após o nascimento, a mãe e a criança devem receber alguns cuidados específicos. O ideal é a presença de um pediatra na sala de parto – fundamental nos casos de gravidez de risco. A mulher que durante o trabalho de parto apresente pressão muito alta, algum tipo de hemorragia ou infecção importante deve ser tratada de maneira especial e receber cuidados extras, pois tais sinais indicam que seu parto está mais sujeito a riscos, tanto para ela quanto para a criança.

Amamentação - Imediatamente após o parto, a mulher tem o direito de ficar com o seu filho e amamentá-lo. O contato da mãe com a criança nas primeiras horas e dias após o parto é fundamental para a saúde física e mental de ambos.

Após o parto, os seios produzem uma aguinha chamada colostro, que o bebê irá sugar assim que nascer e é muito rica em nutrientes e anticorpos vitais para a criança. O leite materno é absolutamente fundamental para o bebê.  Além de ser gratuito e de evitar doenças, a amamentação exclusiva ajuda a mulher a se prevenir de uma nova gravidez, bem como de vários problemas futuros como, por exemplo, o câncer de mama.

As empresas têm a obrigação de proteger a mulher que tiver filho. No seu retorno às atividades, devem oferecer-lhe todas as facilidades para que o aleitamento prossiga até os seis meses de vida da criança, pelo menos. Enquanto a mulher estiver amamentando, mesmo após o término da licença maternidade, ela tem direito a horário especial de trabalho, com dois descansos – de 30 minutos cada – durante sua jornada, destinados à amamentação.

Fontes: 

 

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